quinta-feira, 31 de março de 2011

Modulo 4 da CF à Distância

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FRATERNIDADE E A VIDA NO PLANETA
“A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22)
Arquidiocese de São Paulo – Região Episcopal Ipiranga
CURSO DE CAPACITAÇÃO DE LIDERANÇA A DISTÂNCIA
MÓDULO 4 - 4ª. Semana – VER: Agronegócio e o desmatamento
Caro(a) cursista,
Estamos na quarta semana de capacitação!
Inicie sua reflexão colocando-se em atitude de oração, abra-se para o Espírito de Deus e aclame com o salmista: As nações de toda a terra hão de adorar-vos, ó Senhor!
Oremos:
Senhor Deus, nosso Pai e Criador. A beleza do universo revela a vossa grandeza, a sabedoria e o amor com que fizestes todas as coisas, e o eterno amor que tende por todos nós.
Pecadores que somos, não respeitamos a vossa obra, e o que era para ser garantia da vida está se tornando ameaça. A beleza está sendo mudada em devastação, e a morte mostra a sua presença no nosso planeta.
Que nesta Quaresma nos convertamos e vejamos que a criação geme em dores de parto, para que possa renascer segundo o vosso plano de amor, por meio da nossa mudança de mentalidade e de atitudes.
E, assim, como Maria, que meditava a vossa Palavra e a fazia vida, também nós, movidos pelos princípios do Evangelho, possamos celebrar na Páscoa do vosso Filho, nosso Senhor, o ressurgimento do vosso projeto para todo o mundo. Amém!
Leitura do Evangelho de Mateus (4,12-17.23-25):
Naquele tempo, 12Ao saber que João tinha sido preso, Jesus voltou para a Galileia. 13Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galileia, 14no território de Zabulon e Neftali, para se cumprir o que foi dito pelo profeta Isaías: 15“Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região do outro lado do rio Jordão, Galiléia dos pagãos! 16O povo que vivia nas trevas viu uma grande luz; e para os que viviam na região escura da morte brilhou uma luz”.
17Daí em diante, Jesus começou a pregar, dizendo: “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”. 23Jesus andava por toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando todo tipo de doença e enfermidade do povo. 24E sua fama espalhou-se por toda a Síria. Levavam-lhe todos os doentes, que sofriam diversas enfermidades e tormentos: endemoninhados, epilépticos e paralíticos. E Jesus os curava. 25Numerosas multidões o seguiam, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia, e da região além do Jordão.
- Palavra da Salvação.
- Glória a vós, Senhor.
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1. Introdução
A CNBB há mais de quarenta anos promove anualmente a Campanha da Fraternidade que são assumidas com gesto de unidade pastoral em todas as dioceses, paróquias e comunidades eclesiais no Brasil. É um verdadeiro ato de profetismo em defesa daqueles que são os primeiros no reino de Deus. É por meio desta ação em meio ao tempo litúrgico da Quaresma que se deseja provocar nas pessoas a conversão pessoal e a conversão social com mudanças que possam alterar as estruturas e paradigmas vigentes.
QUARESMA => TEMPO DE CONVERSÃO
=> PÁSCOA => VIDA NOVA
Neste sentido, podemos a afirmar que a CF de 2010 sobre Economia nos despertou para novas relações econômicas baseadas na justiça social, na igualdade e na distribuição da riqueza somada a CF de 2011 sobre a dimensão Ecológica e planetária que provocará reflexões e atitudes no sentido de preservar a vida no planeta. Estas duas temáticas concluem-se como numa trilogia com a proposta da CF de 2012 sobre Saúde Pública: garantia e o direito universal, gratuito e com qualidade à saúde pública a todos os brasileiros.
ECONOMIA + ECOLOGIA = SAÚDE PÚBLICA
Planeta Terra: vista do continente africano
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Nos módulos anteriores tivemos a oportunidade de adentrar as questões de ordem do AQUECIMENTO GLOBAL e em seguida sobre a QUESTÃO ENERGÉTICA. Agora vamos incluir uma terceira situação, preocupante e crescente, que é o DESMATAMENTO atrelado aos interesses do agronegócio.
“Em primeiro lugar importa ecologizar a política e a economia. Explico-me: importam entender sistemicamente todos os problemas. As questões econômicas, políticas, sociais, éticas e espirituais são interdependentes.” (Leonardo Boff em Jornal Santuário de Aparecida 17/11/2006)
A ação humana, por conta de paradigmas não adequados a convivência solidária e humana, vem acentuando os sinais de morte, de desigualdade, de exclusão e opressão.
2. Desmatamento
O verde de nossas matas é exaltado nos hinos e nas bandeiras com sinal de esperança: de um futuro promissor! Todos sabemos que o Brasil é um país de grande extensão e todo ele é ocupado por grandes extensões verdes das matas e das florestas.
Por conta de sua localização no planeta e próximo a linha do Equador podemos destacar algumas das suas características: de temperatura tropical, de muitas terras, de imensa costa litorânea, de uma biodiversidade invejável, com ecossistemas interligados (...), de fauna e flora exótica.
Inicialmente terra de povos indígenas, depois ocupada por homens brancos de cultura européia (português e depois por tempo curto pelos holandeses e franceses). Já no período colonial e imperial destaca-se como território estratégico para a economia internacional, assume o perfil de uma colônia produtora de bens primários, por meio das rotas escravocratas do tráfico negreiro adota a mão de obra escrava. Após crise deste modelo, já no período republicano, aprimora seu potencial desenvolvimentista industrial. Tudo isso dentro de uma cultura de usufruir ao máximo as riquezas naturais disponíveis no território brasileiro.
Vale ressaltar que da miscigenação entre índios nativos, portugueses, negros africanos e posteriormente com grupos de migrantes europeus, surge uma nação de brasileiros: homens e mulheres que se
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orgulham de sua terra, de sua história e de sua riqueza. Este processo cultural foi marcado por muita violência, opressão e morte. Seu construiu um povo entre a ordem e desordem, entre a dependência e a independência, meio aos sinais de esperança que brotaram em meio à escuridão.
Desde o período colonial o Brasil vem sendo explorado, pelos interesses internos e externos, como um grande produtor de riqueza natural que gera a riqueza econômica de poucos (da elite rural) que se utilizam das terras para produzir alimentos e exportar-los para outros países.
Atualmente o problema não está apenas no produzir alimentos ou gerar riquezas. O problema está no fato de que o modelo adotado para a produção dos alimentos adota práticas e tecnologias cada vez mais selvagens na medida em que agride a própria natureza com a utilização não adequada de componentes químicos, tecnologia que exigem a produção em larga escala e de forma contínua, entre outras. O outro problema está no fato de que a riqueza gerada neste setor econômico produtivo não é distribuída de forma equitativa, pelo contrário, fica restrito aos pequenos grupos de proprietários de terras conhecido como latifundiários.
Os latifundiários com o objetivo de produzir em larga escala e atender a demanda do mercado internacional não se contentam com as terras já disponíveis para o plantio de cana de açúcar, de soja, de milho, de algodão, de café e até mesmo da pecuária bovina.
Não bastam as terras do sul para a pecuária; não bastam as terras do sudeste para a produção agrícola; não bastam as terras cultiváveis em solo e temperaturas adequadas dos ecossistemas.
O interesse do capital avança sobre novos territórios ou terras antes ocupadas pela agricultura familiar para invadir, por exemplo, as terras na região sul do país com o plantio da monocultura de eucaliptos provocando o chamado “deserto verde”. Substituem-se as florestas nativas por florestas artificiais com o plantio de arvores para atender a demanda de produção de celulose.
O desmatamento da Floresta Amazônica, uma afronta à crise global do clima.
O desmatamento de toda e qualquer floresta é uma violência contra a humanidade!
Tamanha é a ganância dos grandes produtores que não bastam aos solos já existentes... é preciso avançar sobre outros ecossistemas como o do Pantanal ou da Floresta Amazônica para produzir mais e exportar mais: sementes e carnes.
O avanço dos interesses do setor agrícola e pecuário sobre novos espaços tem gerado o que denominamos como AGRONEGÓCIO: agricultura voltada para a produção em larga escala para atender principalmente o mercado externo a base da monocultura e com utilização de novas tecnologias, dentre elas o uso do plantio de sementes transgênicas.
Portanto, o DESMATAMENTO provocado principalmente pelos interesses do AGRONEGÓCIO é uma violência contra a vida no planeta.
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“O tipo de desenvolvimento e de educação dominante está destruindo o planeta Terra. Em nome do desenvolvimento exploram-se de forma ilimitada todos os recursos para que haja mais e mais consumo, sem o qual o sistema econômico-financeiro se funda.” (Leonardo Boff)
Portanto podemos concluir que o agronegócio é um pecado social, pois tem apenas como meta a acumulação de riqueza nas mãos de poucos, garante o acesso ao direito a alimentação apenas aos que possuem renda, destrói a agricultura familiar e agride violentamente a natureza.
A política de desenvolvimento nacional, regional e local deve incluir prioritariamente em suas diretrizes e princípios o respeito à biodiversidade local e a promoção de economias solidárias que garantam à todas as pessoas o acesso ao meio ambiente saudável, a alimentação, trabalho e todos os demais direitos fundamentais e sociais da pessoa humana.
O modelo de desenvolvimento atual deve ser revisto e debatido por toda a sociedade para que o Brasil tenha um projeto que seja adequado a sua biodiversidade, território, clima, por fim o respeito aos seus vários ecossistemas e ao desenvolvimento humano.
Se nossa biodioversidade continuar sendo agredida as consequencias deste modelo poderá gerar a médio e longo prazo problemas gravíssimos: aumento da população pobre e vulnerável, perda biodiversidade, alterações climáticas, diminuição na produção dos alimentos, dificuldade de acesso aos alimentos, diminuição da água potável, enfraquecimento do solo, entre outros.
Segundo o relatório “Planeta Vivo 2006” do Fundo Mundial para a Natureza antes de 2050 necessitaremos de dois planetas Terra para suprir a demanda da humanidade. James Lovelock, autor da Teoria Gaia, adverte que até o fim deste século 80% da população humana desaparecerá em conseqüência do superaquecimento da Terra e o território brasileiro será quente e seco para ser habitado.
É fundamental que todas as instituições públicas e privadas, juntamente com a sociedade civil organizada e os movimentos sociais e populares exijam que o Brasil seja um país sustentável. Portanto que se aplique o principio da sustentabilidade na política de desenvolvimento e na economia:
SUSTENTABILIDADE: é um conceito de consumo sustentável. É expresso pelo Relatório do Desenvolvimento Humano/PNUD, 1998 (p. 02) como “é o consumo que contribui para o desenvolvimento humano, quando aumenta suas capacidades, sem afetar adversamente o bem-estar coletivo, quando é tão favorável para as gerações futuras como para as presentes, quando respeita a capacidade de suporte do planeta e quando encoraja a emergência de comunidades dinâmicas e criativas”.
Fundamental o papel das Igrejas e das religiões para que o planeta seja preservado, o meio ambiente cuidado e garantido a existência de toda e qualquer biodiversidade. As comunidades religiosas devem enfrentar a “ética do egoísmo” culturalmente imposta por uma economia capitalista selvagem e propor a todos o desenvolvimento da ética do cuidado.
As religiões poderão colaborar com a revisão dos valores vigentes entrando no debate de superação do desenvolvimento apenas como progresso material baseado no consumo e contribuindo com uma nova
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mística/espiritualidade/religiosidade de afirmação do desenvolvimento cultural, espiritual, educacional, relacional da humanidade em todas as direções: com as coisas, a natureza, seus semelhantes e Deus.
3. Indicação de Leitura
• BERNA, Vilmar Sidnei Demamam. Pensamento Ecológico. São Paulo: Paulinas, 2005.
• BOFF, Leonardo. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres. Rio de Janeiro: Sextante, 2004.
• ___. Saber cuidar. Ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis: Vozes, 1999.
• CNBB. A Construção de um novo Brasil – uma criação renovada. 4ª Semana Social Brasileira. Brasília: 2006.
• CNBB. Mudanças Climáticas provocadas pelo aquecimento global. Brasília: 2009.
• FEAB. Cartilha: A quem serve a Transposição do Rio São Francisco. Minas Gerais: 2006.
• LEFF, Enrique. Saber Ambiental. Petrópolis: Vozes, 1998.
• MAB. MAB: Uma História de Lutas, Desafios e Conquistas. Brasília: 2003.
• PACS. Cartilha: Água tem dono? Rio de Janeiro: 2006.
• WANSETTO, Rosilene et SILVA, Edson G. P. O. Ciclo de Debates: modelo de desenvolvimento e o Projeto Popular para o Brasil. São Paulo: Rede Jubileu Sul Brasil: 2009. (distribuição de exemplares – Tel.: (11) 2577 5948)
4. Exercício:
1) Você já parou para pensar que como o agronegócio é uma violência para o meio ambiente?
2) Você pode adotar a prática de um consumo responsável? Como?
3) Quais são as conseqüências por uma sociedade marcada apenas pelos interesses econômicos em detrimento dos valores humanos e da riqueza natural?
Envie para: cfonline@uol.com.br
Equipe responsável:
Armando Souza Amaral – Instituto São Paulo de Cidadania e Política
Conceição Aparecida Dell´Andrea – CF Setor Anchieta
David Trombelli – CEBs Região Episcopal Ipiranga
Edna Márcia Perez Pires – Catequese da Região Episcopal Ipiranga
Edson Silva – CF (Arquidiocesana/Região Episcopal Ipiranga)
Elenice de Souza Pandeiro – CF Setor Anchieta
Francisco Luiz Rodrigues – Engenheiro / Especialista em Resíduos Sólidos
José Miguel Justo – Casa da Solidariedade / Centro Oscar Romero de Direitos Humanos
Maria Auxiliadora Galhano Silva (Dora) – CF Setor Vila Mariana
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Neyde – CF Setor Ipiranga
Rosangela Macieal – CF Setor Imigrantes
Rosilene Wansetto – Rede Jubileu Sul Brasil
Teresita Souza Amaral – Instituto São Paulo de Cidadania e Política
ORGANIZAÇÃO:
Equipe Regional de CF – Região Episcopal Ipiranga
CF Arquidiocese de São Paulo
Apoio:
Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo
CLASP
www.claspnet.org.br
Conselho de Leigos da Região Episcopal Ipiranga- CLERI
CEBS – Região Episcopal Ipiranga
www.cebs-sul1.com.br
Centro Oscar Romero de Direitos Humanos
COR
Casa de Solidariedade ao Desempregado
Região Episcopal Ipiranga
www.casadasolidariedade.org.br
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Instituto São Paulo de Cidadania e Política
www.cidadaniaepolitica.org.br
www.jubileubrasil.org.br

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